12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição

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Nota: 8.0

O sucesso da cinessérie The Purge ao redor do mundo, principalmente nos Estados Unidos, é evidente desde o primeiro filme, lançado em 2013. Com o orçamento de “Uma Noite de Crime” (The Purge) na ordem de US$ 3 milhões originando um faturamento de bilheteria de quase US$ 90 milhões, era evidente uma continuação. “Uma Noite de Crime – Anarquia” (The Purge – Anarchy, 2014) mostrou-se um filme infinitamente mais competente que seu antecessor em todos os aspectos, o que não pode ser justificado somente por questões orçamentárias – foram gastos US$ 9 milhões para a realização da continuação -, mas pelo conjunto da obra. Não é de surpreender que uma nova sequência fosse feita, e “12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição” (The Purge – Election Year, 2016), chegado ao Brasil nesta quinta-feira (06/10), não decepcionou.

Este terceiro filme ocorre dois anos após o segundo. Como de hábito, há o evento anual chamado “the purge”, ou “a noite da purga”: uma noite em que, por 12 horas, qualquer crime é permitido, incluindo assassinato. É ano de eleição nos Estados Unidos, e a noite da purga é o principal motivo da grande polarização entre os dois candidatos: o religioso Edwige Owens (Kyle Secor) e a Senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell). Enquanto Owens acredita que a noite da purga é essencial para a purificação da alma dos americanos, que extravasam seus maus sentimentos durante essa noite onde tudo é permitido, a Senadora Roan prega que a selvageria é dispensável e promete acabar com o evento. Em seu discurso, Roan deixa claro que os interesses para a criação da noite da purga são unicamente destinados ao extermínio dos mais pobres, que não têm como se proteger, e cuja morte seria um alívio às contas e às políticas sociais do país. No entanto, a Senadora precisa sobreviver aos ataques de seus opositores nessa noite para colocar em prática seus ideais, e deverá contar fielmente com seu segurança particular, Leo Barnes (Frank Grillo), o sargento que buscava vingança no segundo filme.

O mérito de “12 Horas para Sobreviver” está, principalmente, no fato de conseguir explorar nuances inéditas da franquia. Enquanto o primeiro filme mostrou uma visão mais intimista da noite de crime, sob o ponto de vista de pessoas ricas que conseguiam se proteger e tiveram suas fragilidades expostas, o segundo abordou aqueles menos favorecidos que precisam ficar nas ruas e participar da purga, este terceiro foi além ao explorar o mundo de quem está por trás do evento anual. O foco no caráter político eleva o potencial de debate da cinessérie, trazendo à tona definitivamente a questão social; o mundo das gangues, os interesses de quem apoia a purga, as pessoas que buscam vingança, aquelas que têm algo além de suas vidas ameaçado pelos crimes autorizados, e aquelas que, ao contrário da maioria da população, resolve fazer o bem na noite de crime. É possível ver “12 Horas para Sobreviver” como um estudo sociológico de uma realidade que, mesmo distópica, tem uma maior aproximação ao nosso mundo do que podemos querer admitir.

Mesmo tendo sido filmado muitos meses antes do início efetivo da corrida eleitoral americana, é possível ver claramente as semelhanças entre os candidatos da ficção e Hillary Clinton e Donald Trump. Coincidência, ou não, isso garante ao filme um interesse ainda maior daqueles que estão por dentro dos acontecimentos nos Estados Unidos da realidade, e é mais um ponto favorável ao roteiro de James DeMonaco.

Além da qualidade do debate proposto por DeMonaco, o roteiro tem muitos outros acertos, bem como a direção do mesmo DeMonaco. É possível ver o tempo inteiro a insanidade da população, tanto nos momentos em que vemos pessoas atacando umas às outras, gritando e dançando ao redor de corpos, tanto quando são mostrados os bastidores da purga. Os planos mais fechados de DeMonaco, que podem ser vistos negativamente no sentido de expor o baixo orçamento do filme – com apenas US$ 10 milhões é difícil encher as ruas com pessoas loucas sedentas por sangue -, foram um grande acerto na minha opinião. Podemos ver nos olhos das pessoas as suas motivações, construídas culturalmente ao longo do tempo e autorizadas por quem tem o domínio do país, e isso nos permite entrar mais a fundo na história. No entanto, esses mesmos planos fechados podem passar um pouco menos tensão e sensação de urgência, porém nada que comprometa o resultado final.

O filme conta com boas atuações, sobretudo da dupla de protagonistas – Mitchell e Grillo. Os personagens, cuja construção é absolutamente satisfatória, todos têm relevância, e o elenco dá conta de transmitir as emoções duais e difíceis de quem vive em uma noite onde tudo é permitido. O figurino também é digno de elogios; as cores vibrantes, presentes em muitas das máscaras e fantasias usadas pelos participantes da purga, servem perfeitamente para mostrar o caráter sádico e insano dos personagens, principalmente aquela que busca vingança a todo custo, e aquela que ilustra essa publicação. Os atos de violência também são muito bem representados visualmente, com mortes caprichadas e muito sangue voando pela tela.

“12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição” consolida a franquia como parte relevante do cinema americano, e mostra que consegue se renovar a cada filme. Aqui não temos um salto de qualidade em relação a “Anarquia”, mas isso em nada não depõe contra o longa. É uma pena que sua precária distribuição brasileira o tenha levado a tão poucas salas. O Brasil também trouxe ao filme seu maior pecado: a horrível tradução, que pode deixar o público confuso quanto ao pertencimento à franquia The Purge. Tendo estreado nos Estados Unidos no início de julho, este terceiro filme apresenta ótimo rendimento de bilheteria – faturou, até o momento, mais de US$ 115 milhões -, e acredito que a franquia ainda tenha fôlego e história suficientes para ganhar mais uma continuação. Resta-nos esperar para ver, e torcer para que o potencial de renovação, mostrado a cada novo filme, seja mantido e explorado.

Por Danilo Martins

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