Harry Potter e a Câmara Secreta

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Nota: 7.0

Após o enorme sucesso de público do primeiro filme (Harry Potter e a Pedra Filosofal), a série de J. K. Rowling foi às telas de cinema mais uma vez um ano depois, desta vez com o título de “Harry Potter e a Câmara Secreta” (“Harry Potter and the Chamber of Secrets”, 2002) e com praticamente a mesma equipe que levou a primeira aventura aos cinemas. Grande parte dos erros foi corrigida, mas o que vemos na segunda parte da milionária série ainda não é exatamente o que se pode esperar.

Depois de um conturbado primeiro ano na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Harry (Daniel Radcliffe) mostra-se preocupado por não ter recebido notícias de seus amigos de escola durante as férias. Preso em seu quarto, Harry recebe a visita de Dobby, um elfo doméstico, que tenta a qualquer custo impedir que Harry volte à escola, alegando que há grandes conspirações envolvendo sua morte. Claro que a criatura não obtém êxito, e Harry, ao voltar para Hogwarts, depara-se com um grande mistério. Alunos estão sendo atacados e petrificados e, pela inscrição em sangue que se encontrava no local do primeiro ataque (“A Câmara Secreta foi aberta. Inimigos do herdeiro… cuidado!”), os mais antigos no castelo acreditam que a Câmara Secreta foi reaberta e seu segredo mortal foi libertado novamente. E, junto com isso, surge o temor de que, assim como na outra vez, uma pessoa seja morta pelo monstro da câmara. Harry, Rony (Rupert Grint) e Hermione (Emma Watson) dedicam grande parte de seu tempo para desvendar o mistério, o que os leva a desvendar segredos de um passado que não morreu com o tempo.

Este segundo filme da milionária série, até por manter diretor e roteirista, é bastante parecido com o primeiro. O clima de mistério e suspense aumenta, mas poderia ter sido mais bem explorado pelo falho diretor Chris Columbus (em sua despedida da série). Já a magia e a “inocência” contidas em “… a Pedra Filosofal” continuam muito presentes, até porque essa história é ainda infantil se comparada aos filmes que vêm em seguida. Outro fator que se manteve praticamente intacto foi a direção de Chris Columbus, que permanece bastante burocrática. O diretor não muda nada do roteiro e o filme continua sem ter um toque pessoal do diretor. O roteiro, mais uma vez escrito por Steven Kloves supera bastante o primeiro, tanto pela maior presença de elementos de ação quanto pela menor preocupação em apresentar lugares e pessoas. Kloves mostra-se mais adaptado à série e consegue transmitir com sucesso o que Rowling escreveu em sua obra. No entanto, o roteirista erra em estender demais a história, pois um livro de 287 páginas não precisa de 161 minutos para ter sua história contada. Isso acaba deixando a trama, por vezes, com o ritmo desacelerado demais, deixando o espectador cansado e entediado. Mas não dá para negar que Columbus tenha culpa, já que as cenas muito grandes e algumas vezes sem ação têm um dedo do diretor, assim como seus cortes inesperados e, novamente, o caráter episódico.

Mais uma vez, a parte visual é a que merece maior destaque. Se “Harry Potter e a Pedra Filosofal” foi indicado ao Oscar em 3 categorias, é de total injustiça que este não tenha sido em nenhuma, já que a direção de arte, o figurino (categorias que renderam indicações a “… a Pedra Filosofal”) e os efeitos especiais estão melhores que o primeiro. O jogo de quadribol é infinitamente superior ao retratado no primeiro filme, e o cenário da cena final é espetacular, assim como é a seqüência do vôo do carro até Hogwarts. Nos efeitos especiais, não há vestígio do bizarro trasgo mostrado no primeiro filme. Dobby é extremamente verossímil e bem feito, assim como as aranhas da floresta proibida (sobretudo a aranha maior, Aragogue) e o enorme basilisco. O figurino é bastante parecido com o primeiro, mas há uma sensível melhora, até pelo fato de que o orçamento ficou mais gordo para este filme (estimado em mais de 100 milhões de dólares). Por vezes parecido com o de filmes de época, o figurino de “Harry Potter e a Câmara Secreta” acerta sempre, desde os uniformes de quadribol até as roupas cotidianas dos alunos. A parte sonora do longa também é excelente e a trilha sonora é bastante parecida com a do primeiro. Os efeitos sonoros acertam por não serem abusivos e descrevem quase que com excelência o que se passa na tela.

As atuações, assim como no primeiro filme da série, são em alto nível. Daniel Radcliffe está mais maduro como Harry Potter e sua atuação condiz com o momento pelo qual passa seu personagem. Rupert Grint está mais à vontade como Rony Weasley e sua comicidade está mais acentuada; já Emma Watson continua com suas expressões exageradas, mas nada que atrapalhe sua exibição perante as câmeras. O elenco adulto é praticamente perfeito, com um Alan Rickman mais uma vez inspirado como o Professor Snape e com Robbie Coltrane em ótima sintonia com seu personagem, Rúbeo Hagrid. Temos também um Richard Harris fenomenal no último papel de sua carreira, mais uma vez como um Alvo Dumbledore imponente e aparentemente cansado; e Maggie Smith com sua constante elegância como a Professora Minerva McGonagall. Kenneth Branagh mostra-se cômico com seu Gilderoy Lockhart, o famoso (e charlatão, diga-se de passagem) professor de Defesa Contra as Artes das Trevas; sua atuação é segura e o ator é naturalmente engraçado. Jason Isaacs aparece pela primeira vez na trama como Lucio Malfoy (pai de Draco Malfoy), e, com um papel curto e importantíssimo, o britânico não deixa a desejar.

Apresentando uma melhora com relação ao primeiro filme da série, “Harry Potter e a Câmara Secreta” continua com um menor número de erros em relação aos acertos, mas fica a sensação de que falta algo a mais. Chris Columbus, em sua despedida da série, faz um trabalho mais correto, mas ainda não consegue levar o mundo de Rowling com total sucesso para as telas. É um bom filme, mas, ao final, fica o gostinho amargo de que poderia ter sido bem melhor.

Por Danilo Henrique


Harry Potter e a Pedra Filosofal

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Nota: 6.5

A série “Harry Potter”, baseada nos livros de J. K. Rowling, inciciou-se em 2001 sem total certeza de que continuaria. O principal motivo que poderia ser apontado era quantidade de histórias que a britânica escreveria, pois ela sempre disse que iria levar a série até o sétimo livro (e a qualidade e o sucesso das vendas dos livros sempre garantiram a extensão da série). Então, em 2001 surgiu este “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (“Harry Potter and the Sorcerer’s Stone”, 2001), que, mesmo não tendo metade da magia dos livros de Rowling, deu início a uma das maiores febres infanto-juvenis (hoje alcançando adultos que eram infanto-juvenis na época), deu um imenso agrado aos milhões de fãs que os livros já tinham e recrutou outros milhões (como eu) que ainda não conheciam a história.

Harry Potter (Daniel Radcliffe) é um garoto que sobreviveu à morte com apenas um ano, quando um maligno bruxo matou seus pais e não conseguiu levá-lo também (motivo pelo qual tem uma cicatriz em forma de raio na testa). Então, ele foi levado para a guarda dos tios, onde era constantemente maltratado. Então, ao completar 11 anos, ele recebe a revelação de que é bruxo, descobre a verdadeira causa da morte de seus pais (bem como da sua sobrevivência ao mesmo feitiço) e vai para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde aprende a usar seus grandes poderes. E, ao lado de seus amigos Rony Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson), passa por vários perigos e, finalmente, volta a encarar o mal que lhe tentou tirar a vida 10 anos antes.

“Harry Potter e a Pedra Filosofal” é, sobretudo, um filme destinado ao público mais jovem (é uma imensa crueldade falar que é um filme para criancinhas), mas acaba tendo elementos para agradar os mais velhos. Sendo a história mais bobinha e infantil da série, este filme põe na mesa o verdadeiro valor da amizade e tem certo clima de perigo e mistério que acabam prendendo a atenção dos mais crescidinhos. O clima de mistério poderia ser mais aproveitado pelo diretor Chris Columbus, que não consegue dar à narração seu toque pessoal, fazendo exatamente tudo que está no roteiro. Sua direção é altamente burocrática e impessoal, fazendo com que sua participação no longa seja apenas uma transposição do roteiro para a tela. No entanto, o grande mérito do diretor é saber tirar grandes atuações de seu elenco mirim, que funciona muito bem. Chris, que tem experiência ao trabalhar com crianças em “Esqueceram de Mim” e “Uma Babá Quase Perfeita”, acaba não levando o longa à derrocada total pela sua habilidade com atores. O roteiro seguido completamente à risca ficou a cargo de Steven Kloves, que assinou quase todos os filmes da série. Kloves soube cortar o que era desnecessário, colocar o necessário e não deixar o longo filme o menos maçante possível (mesmo que, em algumas partes, o enredo acabe se arrastando um pouco). Certamente, o roteirista mais adquado para a série.

A parte visual de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é excelente, sobretudo a direção de arte indicada ao Oscar (derrotada pelo soberbo “Moulin Rouge”). Os cenários reproduzidos na tela são exatamente o que grande maioria dos fãs imaginam lendo a obra britânica. As reproduções mas caprichadas foram, sem dúvida, do mágico Beco Diagonal e do imponente Banco Gringotes. O jogo de quadribol representado, mesmo sendo ligeiramente artificial, é muito bom e também condiz com o que os leitores esperam. A Floresta Proibida, citada como o lugar mais perigoso da escola, é traduzida com perfeição, com o aspecto sombrio e perigoso retratado no livro. Além da espetacular direção de arte, merece destaque também na parte visual o exuberante figurino, também indicado ao Oscar de 2002. Todos os atores incrivelmente bem vestidos, o que dá ao filme uma verossimilhança a mais. O único problema da parte visual do longa acaba sendo os efeitos especiais. O trasgo, monstro que mais desperta o imaginário de quem lê a obra de Rowling é esdruxulamente produzido, parecendo vindo de um obsoleto video game de terror. A representação de Lord Voldemort é superior em qualidade à do trasgo, mas fica longe de dar a sensação de medo que seu personagem exige. Os centauros da Floresta Proibida são tratados com mais cuidado que os citados anteriormente, mas ainda assim acabam pedindo “algo mais”.

O elenco de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é  ponto altíssimo na produção. O número de talentos britânicos reunido é impressionante, o que facilitou muito o trabalho do diretor com a direção de atores. Maggie Smith (indicada a dois Oscar) aparece como a séria professora Minerva McGonagall, dando-lhe uma verossimilhança impressionante, e sendo a personagem mais parecida com o que se encontra nas páginas de J.K. Rownling. Alan Rickman interpreta o frio Severo Snape com enorme competência e Richard Harris dá vida a Alvo Dumbledore, o amoroso e brilhante Dumbledore. No penúltimo filme de sua vida, Harris é um Dumbledore com menos vivacidade e mais imponência. No elenco adulto, também há de se destacar a breve aparição de John Hurt como o vendedor Olivaras e de Robbie Coltrane como Rúbeo Hagrid, ambos com atuações seguras e timings corretos. No elenco mirim, Daniel Radcliffe, Rupert Grint e Emma Watson (Harry, Rony e Hermione, respectivamente) mostram-se ótimas escolhas para seus papéis. Os três são muitíssimo seguros (apesar de Watson exagerar um pouco em suas expressões) e dão a seus personagens grande vivacidade e dinamismo.

O longa, apesar de seus 152 minutos de duração, acaba tendo a história abordada de forma superficial em detrimento da apresentação de personagens e do mundo bruxo, o que acaba tornando-o mais desagradável para os que já leram a obra de Rowling. O caráter “episódico” contribui para que os longos 152 minutos passem mais devagar e de maneira mais arrastada, já que as cenas parecem não ter grande conexão entre si.

“Harry Potter e a Pedra Filosofal” foi uma maneira boa de se começar a milionária série, mesmo não sendo um grande filme. É, sem dúvida, o mais fraco dentre os seis filmes já lançados, mas não se pode negar que a magia introduzida por Chris Columbus é cativante para quem não acompanhava os livros e realizadora para quem acompanhava. Um bom filme para os mais novos, um bom passatempo para os mais velhos e uma boa abertura para a série.

Por Danilo Henrique