Regras do Brooklyn

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Nota: 8.5

Filmes que possuem como tema central a amizade são, normalmente, fadados a ficarem no lugar-comum do sentimentalismo extremo, desmedido e exagerado, como acontece no fraco “Appaloosa – Uma Cidade sem Lei”. Quando querem juntar amizade com máfia, um tema bastante complicado de se explorar, não tem como esperar um resultado bom. E é com grande surpresa que acompanhei os 96 minutos de projeção de “Regras do Brooklyn” (Brooklyn Rules, 2007), que é um ótimo filme, tanto de máfia quanto de amizade (mas devo confessar que o segundo tema supera bastante o primeiro em questão de qualidade de abordagem), que em nenhum momento é apelativo nem incoerente.

Michael (Freddie Prinze Jr.), Carmine (Scott Caan) e Bobby (Jerry Ferrara) são amigos de infância e, desde então, moram no distrito do Brooklyn, em Nova York. Os três viveram juntos até chegarem à idade adulta na década de 80, quando a máfia tomou conta inteiramente do distrito, dando à vida deles um rumo completamente diferente do que imaginavam. Se antes eles tinham de enfrentar batalhas diárias como relacionamentos e responsabilidades profissionais, agora eles têm de estar atentos à influência da máfia em suas vidas, que trouxe constante perigo e aflição ao seu dia-a-dia. Mesmo com um dos amigos, Carmine, ligado diretamente ao grupo mafioso chefiado por Caesar Manganaro (Alec Baldwin), a amizade dos três permanece praticamente intacta, apesar de enfrentarem constantemente problemas decorrentes da máfia no bairro.

Apesar de tratar de assuntos bastante distintos, “Regras do Brooklyn” apresenta um roteiro praticamente sem falhas, que, em momento algum, trata a amizade de Michael, Carmine e Bobby como algo bobo e exageradamente sentimental. Muito pelo contrário, “Regras do Brooklyn” é um filme extremamente sério. Não espere amiguinhos que vivem saindo para bares, enchem a cara, transam com todas as mulheres que conseguem, têm problemas com a família e vêem nos amigos as únicas pessoas que lhes entendem. Este filme é diferente dos outros que vemos por aí. O grande diferencial está na construção dos personagens, muito bem feita pelo roteirista Terence Winter (que escreveu 23 episódios da ótima série “The Sopranos”, da HBO). Mesmo apresentando alguns clichês (como “o amigo zoado”, “o amigo certinho” e “o amigo fora-da-lei”, o roteiro de Winter acerta em cheio na abordagem que dá ao trio de amigos, e também aos personagens coadjuvantes, como o mafioso Caesar e a complicada Ellen (Mena Suvari), colega de faculdade de Michael, que acaba se tornando um pouco mais que isso. Para transpor o roteiro para as telas, foi escolhido Michael Corrente, cujo trabalho eu não conhecia, e que estava sem dirigir um filme desde “Um Tiro na Glória”, em 2000. Corrente tem uma direção bastante segura, e é co-responsável pela eficácia da construção dos personagens de Winter, com uma ótima direção de roteiro. O grande problema de “Regras do Brooklyn” é que, por ter um diretor não muito acostumado a fazer grandes filmes, acaba não tendo uma pretensão de ser um filme grandioso, esbarrando em um excesso de cautela. Poderíamos ter uma abordagem mais aprofundada das questões da máfia, o que nos daria uma explicação melhor acerca do que acontece na tela, mas o que é visto é uma abordagem muito superficial, o que acaba criando algumas dúvidas e incertezas. Corrente preferiu ater-se ao tema principal, a amizade, e não explorar com a devida atenção a interessante máfia do distrito. Mas Corrente e Winter acertam em cheio nas cenas mais tristes do longa, mostrando que, desdo o início, a verdadeira intenção do filme era abordar a amizade do trio. Com leveza e naturalidade, mesmo em face dos obstáculos impostas pela vida, Michael, Carmine e Bobby mantêm-se fiéis uns aos outros, o que pode ser visto, principalmente, na cena final, que leva qualquer espectador às lágrimas facilmente. Interessante também é o fato que a história é narrada pelo personagem de Freddie Prinze Jr., mesmo que ele não esteja onipresente, o que torna sua ligação com o público mais estreita que a dos outros personagens. Além de tudo, o filme trata de vingança, mas não uma vingança qualquer, mas uma vingança “justificada”, que só quem já perdeu uma pessoa importante sabe como é.

Se diretor e roteirista acertaram a mão em praticamente tudo, o que dizer do elenco de “Regras do Brooklyn”? Todos têm atuações muitíssimo seguras, o que não deixa de ser mérito do diretor Michael Corrente, mas eu atribuiria, em maior parte, ao próprio talento dos atores. Freddie Prinze Jr. interpreta o mais carismático dos três amigos, Michael. O ator mostra total segurança ao colocar nas telas o amigo mais certinho, o universitário trabalhador Michael, que luta com todas as suas forças para tirar Carmine do mundo da máfia. Interpretado por Scott Caan, Carmine é o amigo mais politicamente incorreto, um verdadeiro aprendiz de mafioso. Caan cumpre seu papel com muita competência, mostrando que sabe oscilar entre o mafioso durão e o amigo que faz de tudo para ver os outros bem. O outro amigo, Bobby, é interpretado por Jerry Ferrara, que, apesar de não ter má atuação, exagera um pouco em tornar seu personagem o mais “bobinho e imaturo” do trio. Para completar a lista, temos o sempre bom ator Alec Baldwin, como o mafioso Caesar Manganaro. A complexidade de seu personagem, que oscila entre o lado bom de ajudar os amigos de Carmine e, obviamente, o lado ruim de ser mafioso, só poderia ser interpretada por um ator do calibre de Baldwin, que segura as pontas com perfeição, brindando a excelente construção do roteirista com a melhor atuação do filme (mesmo que seu personagem não tenha o mesmo destaque que o trio de amigos).

“Regras do Brooklyn” é aquele tipo de filme que tinha tudo para dar completamente errado, com sua temática complicada, seu diretor acostumado a fazer trabalhos de pouca relevância e a presença de apenas um grande nome no elenco. Contudo, o que temos diante de nossos olhos é um filme bastante competente, que esbarra na falta de pretensão da equipe de produção, principalmente da direção. Com um final tocante, “Regras do Brooklyn” agrada a todos, mesmo àqueles que não gostam de filmes de amizade e de máfia. Uma verdadeira ode à verdadeira amizade!


Por Danilo Henrique

Um comentário sobre “Regras do Brooklyn

  1. Ana Paula Ramos disse:

    Esse filme é muito triste, pesado e violento! A parte mais triste é que um deles morre quando estava parando justamente para rezar!

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